quinta-feira, 25 de junho de 2009

Escrita: Código de transcrição ou sistema de representação da língua?


Disciplina: Língua Portuguesa/Literatura C iclo: Ensino Fundamental - 1ª a 4ªAssunto: Organização do trabalho de alfabetizaçãoTipo: Metodologias
Há duas possibilidades de compreensão da escrita: como código de transcrição ou como sistema de representação da língua. A adoção de cada uma dessas posições tem implicações metodológicas bastante diversas para a prática educativa.Se a escrita for compreendida como código de transcrição, ela entra na mesma categoria do código Morse ou do código Braile, por exemplo.Esses códigos foram construídos a partir da escrita, de tal maneira que cada um de seus sinais — silêncios e sons, no caso do código Morse; pontinhos em relevo organizados em um determinado espaço, no caso do Braile — corresponde a uma das letras da escrita, sistema gráfico já existente e conhecido, que serviu de base para ambos. Nesse caso, a língua seria um código construído a partir de um sistema de representação dos sons da língua.A aprendizagem da escrita, portanto, seria uma mera questão de estabelecer correspondência entre um grupo de sinais gráficos e outro — relacionar cada uma das letras à sua representação em cada um dos demais códigos. Seria uma aprendizagem baseada, sobretudo, nos processos perceptuais e de discriminação (visual, auditiva).Quando se aprende a escrever, a referência que temos é a fala — estabelecemos correspondência entre sons emitidos e marcas gráficas —, que não é um sistema gráfico constituído, mas sonoro. Os elementos da escrita, portanto, não são da mesma natureza que os da fala, nem a relação que se estabelece entre eles.Não há um sistema de representação gráfica construído antes da escrita. O que há é a fala, com uma outra materialidade, a sonora, de natureza diversa.A escrita não é, portanto, um código de transcrição de alguns sinais em outros, sejam eles pontinhos em relevo ou sons. A escrita é um sistema de representação para o qual não há referência anterior. Dessa forma, a sua aprendizagem é fundamentalmente cognitiva, e não perceptual.Trata-se de um processo de compreensão sobre o que vem a ser a escrita: o que representa, qual a sua natureza, que tipo de elementos utiliza, que tipo de relação estabelece com o que representa. Nesse processo, os alunos formulam hipóteses, que irão sendo testadas, abandonadas e confirmadas.Conhecer as idéias que geralmente as crianças constroem a respeito da escrita — a psicogênese da língua escrita —, nessa perspectiva, é fundamental para o professor organizar seu trabalho, ou seja, como vai programar sua intervenção pedagógica.Dependendo das idéias já construídas pela criança sobre a escrita, o professor propõe esta ou aquela atividade. Por exemplo, se um aluno nem sequer compreendeu que a escrita representa a fala, atividades como a cópia de famílias silábicas é completamente inútil. Nesse momento, é preciso que ele compreenda que tudo o que se fala pode ser escrito.Então, é fundamental, por exemplo, pedir a eles que ditem ao professor a letra da música que cantaram no recreio para que possa ser grafada na lousa, fazendo com que acompanhem e “leiam” cada palavra escrita.É essa atividade que disponibilizará para esse aluno a informação necessária para avançar na compreensão do sistema.Outra atividade fundamental para esse aluno é o ajuste de um texto que conheça de memória — preferencialmente poemas, parlendas, letras de música, nos quais há uma correspondência entre verso do texto escrito e frase melódica cantada — ao seu registro gráfico.Nesta atividade, o professor pode solicitar ao aluno que localize determinada palavra. Para fazer isso, ele “ajusta” os versos escritos aos melódicos e utiliza determinadas pistas lingüísticas como: “deve ser a última palavra da linha, pois foi a última coisa que cantei”; ou “deve ser a primeira palavra da linha, pois foi a primeira coisa que falei”.

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